quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Sessão de terapia #3

Hoje tive a minha terceira sessão de terapia. Acordei ansiosa pra ir. Tinha tantas coisas pra falar...



De todas as coisas que expressei hoje o que mais ficou em voga foi as mudanças de humor, a irritabilidade, a agressividade e os sentimentos que se seguem depois que estas "explosões" passam. Coloquei o explosões entre parentese porque não sou do tipo que bate ou quebra coisas (apesar de já ter feito isso, mas sempre quando estava sozinha). Em frente as pessoas sou muito mais implosiva do que explosiva. Em geral eu engulo a raiva por medo de afastar as pessoas de mim e a descarrego sobre mim, na forma de auto-mutilação/agressão, drogadicção ou álcool e comida. Porém, há aquelas vezes em que eu perco o controle (o que tem sido muito mais comum ultimamente, já que não estou mais fazendo a maioria das outras coisas que citei) e quando isso acontece eu costumo falar de forma muito agressiva com quem quer que esteja por perto.

O mais complicado nestes momentos de raiva e descontrole é o sentimento que me consome depois que tudo já aconteceu. Sinto-me culpada por ter gritado e ser agressiva e isso causa uma forte dor, como se eu fosse uma pessoa horrível (o que também acontece quando dirijo as agressões para mim). Ainda pior é que as pessoas não entendem nem nunca entenderam esses sentimentos, não validam a minha raiva e me tratam como se eu fosse uma adolescente rebelde, o que me deixa ainda mais irritada e frustada.

Outra coisa sobre a qual falamos hoje e que também tem tudo a ver com o que estava dizendo anteriormente é a relação com a minha mãe. Raramente (nunca) eu digo não para minha mãe e isso é sempre muito frustante. Todas as coisas que eu tenho vontade de fazer ela julga desnecessárias. Se eu quero sair com os meus amigos ela já questiona pra que vou sair se posso ficar em casa. Se eu quero ir ao cinema ou comer fora ela acha ruim porque vou gastar dinheiro. Se eu gosto de ler romances ela acha que são livros ruins. Por outro lado ela tendencia a querer que eu faça tudo o que ela gosta, como por exemplo ir a igreja e ler textos bíblicos, ir para chácara e plantar flores no jardim ou ficar em casa com ela e como ela. O desenvolvimento da minha personalidade é extremamente prejudicado por causa disso, porque estou sempre fazendo o que ela quer e não o que eu quero, o que me confunde sobre o que devo fazer. Tudo isso que relatei nos levou ao exercício que a psicóloga me deu na sessão passada que eu falei em um post anterior.

São elas:

- O que gosta de fazer e está fazendo: Ler, trabalhar e gastar dinheiro comigo.

- O que gosta de fazer e não está fazendo: Ir ao cinema, teatro e exposições de arte, sair com os amigos, conversar com pessoas intelectualizadas, estudar assuntos do meu interesse (música, arte, história,  mitologia, cultura, curiosidades), desenhar, ler, ajudar as pessoas a pensar soluções para seus problemas, cozinhar, degustar boa comida e bebida, conhecer novos lugares, viajar e me deslumbrar com coisas belas.

- O que não gosta de fazer e está fazendo: Comer compulsivamente, trabalhar em casa, morar com os meus pais, implorar afeto, dormir em excesso.

- O que não gosta de fazer e não está fazendo: usar drogas, fumar, beber em demasia.

Minha carreira é uma grande questão pra mim. Ter uma personalidade fluida me confunde na hora de escolher o que fazer da minha vida (na verdade me confunde em tudo, preciso sempre que alguém me diga o que fazer e como fazer). Ao final da sessão minha psicóloga me deu um novo exercício: Baseada nas coisas que eu coloquei que gosto de fazer e gosto de fazer mas não estou fazendo eu devo pesquisar profissões que tenham a ver com essas preferencias e me visualizar desempenhando-as, independente da validação ou julgamento de outras pessoas.

Bom, foi isso. Sai de lá muito aliviada e um pouco mais animada. Passei o dia bem, sem crises de ansiedade ou compulsão e variações de humor (pelo menos até agora) e estou sendo agradável com as pessoas. Ainda há esperanças! ^_^



terça-feira, 28 de outubro de 2014

Desabafo sobre meus dias



Já faz algum tempo que eu penso que não estou vivendo. Passo os dias como se estivesse em um sono profundo e nem me dou conta de que o tempo está passando. Hoje pela manhã tomei um susto quando vi na cartelinha de anti-concepcional que uma semana inteirinha já se foi e eu nem percebi.

Ontem o dia foi completamente estupido. Dormi até tarde, tomei café e desci para trabalhar (meu trabalho fica na minha casa mesmo), almocei, tive vários surtos de compulsão alimentar e passei o dia todo com uma ansiedade chatíssima esmagando meu peito. De noite, depois do jantar fui pro quarto ler. Do nada me senti irritada, chateada e odiosa! Tive muita raiva da minha mãe sem uma razão exata. O surto de ansiedade piorou um pouco e meu coração começou a bater acelerado e uma angustia enlouquecedora me fez rolar na cama e desejar cair num sono profundo. Me senti totalmente desesperançosa. E sabe de uma coisa? Todos os meus dias são assim.

Tenho 27 anos, sou formada por uma universidade federal e mestre por uma das universidades mais conceituadas deste país, porém não trabalho na minha área. Simplesmente não me encontrei! Nas minhas reflexões pessoais acredito que isso se deve a insegurança quanto a minha identidade. Eu simplesmente não sei quem sou, não sei do que gosto, mudo rápido demais. 

Faz mais ou menos um ano que eu perdi as minhas referencias. Eu sempre tive referências. Amigos, conhecidos que eu achava descolados, namorado, eram estas pessoas que me autorizavam como ser. Eu era como elas, ou o que elas desejavam de mim. Mas dos amigos eu me afastei por causa do namorado, e o namorado já não é mais namorado, e eu voltei pra casa dos meus pais e é aqui que eu passo o dia, todos os dias, o dia todo...

Dormir tem sido uma fuga pra mim. Em geral durmo o máximo que posso. Me recolho cedo, por volta das 21 horas e acordo no outro dia as 7:30 da manhã e depois do almoço eu sempre durmo mais ou menos 1 ou 2 horas. Saio muito pouco de casa, em geral para ir a igreja e raras vezes para sair com alguns poucos amigos que de vez em quando se lembram de mim. Confesso que minha vontade é sair, encher a cara, transar com um desconhecido, me entupir de alguma droga e voltar pra casa no outro dia. Mas só de pensar na angustia e dor que tudo isso me causaria depois que o efeito do álcool e das drogas passasse, que eu opto por ficar quietinha na minha casa. Tenho experiência com esse tipo de situação, e sinceramente estou cansada de me sentir um lixo de pessoa.

E assim são os meus dias. E especialmente ontem, especialmente agora, me sinto sem esperanças de um dia ter uma vida com o mínimo de equilíbrio possível.


segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Boca descontrolada



Não sei muito bem quando foi que isto começou, mas sei muito bem das consequências! Já não é de hoje que sei sobre a minha compulsão alimentar. Muito antes de ter um diagnóstico TPB ou de depressão eu já falava sobre minha compulsão. Resume-se a: Estou feliz? Vou comer! Estou triste? Vou comer! Estou deprimida? Vou morrer de tanto comer! Estou ansiosa? Comer! Comer! Comer!

A comida pra mim é vida e morte. É como se eu a usasse na tentativa de preencher algo, suprir, reprimir, aliviar sensações e sentimentos que eu não sei explicar! O pior é a culpa que eu sinto depois de comer e comer coisas e mais coisas, como agora por exemplo quando acabei de almoçar e "tive" que comer um pedaço enorme de bolo de chocolate recheado somado a mais um beijinho de leite ninho. Ou como ontem, quando eu nem tinha tomado café da manhã ainda e já estava comendo três bombons de chocolate recheados com frutas. É triste e lamentável! Não é algo que se possa dizer: "controle-se", porque é insuportavelmente doloroso. Se eu não como eu sinto náuseas, dor de estômago, fico agitada e inquieta como uma drogada em abstinência, e isso é muito triste.

Minha compulsão me levou a pesar 92 quilos, quando eu tinha apenas 22 anos. Nessa época eu estava no final da minha faculdade e tinha reencontrado um amor virtual (que já era a razão da minha existência). Ele me falou que viria finalmente me conhecer na minha formatura. Ah... o amor border... Na expectativa de encontra-lo e ser desejada por ele eu consegui me manter em uma dieta e driblar a compulsão. Se eu ia comer eu pensava nele, virava as costas pra comida e fumava maços e mais maços de cigarro. Perdi 20 quilos em seis meses e quando ele finalmente chegou aqui na minha cidade eu pesava felizes 71 quilos.

Eu consegui manter esse peso nos três anos que estive com esse amor (mesmo com toda a turbulência desse relacionamento, do qual falarei numa outra ocasião). Mas, como nada na vida de um border são flores, o relacionamento acabou e cá estou eu: incontrolável! Eu tento entrar em dietas e academias, acordo em dias determinada a mudar a minha vida, mas nada dura muito tempo. No primeiro sinal de descontrole emocional (que geralmente acontece pelas mínimas coisas), tudo cai por terra e eu volto a me sentir incapaz e um lixo de pessoa.

Acho ainda mais triste enfrentar essa situação sozinha, sem uma ajuda especializada. Minha mãe sempre pegou muito no meu pé com relação a comida. Esta é uma das razões pelas quais resolvi falar disso hoje. Antes do almoço assaltei um doce na geladeira e ela retrucou "Tá querendo virar uma balofa?". Sei que na cabeça dela ela estava me alertando e desejando o meu bem (como ela fez a vida toda comigo). Mas você já tentou dizer a um viciado para que não use drogas? Não é um simples desleixo. É uma dependência somada a uma falta de amor próprio insuportáveis. Minha vontade foi responder "Deixa eu me matar e não se mete!", mas eu só sai de perto e fui me achar uma idiota no sofá da sala. Não pensem que fico feliz em ser assim. Eu não gosto de ser assim. Minha psiquiatra me passou um anti-depressivo (sertralina) que me ajudaria com os sintomas de ansiedade, impulsividade e compulsão. Faz um mês que faço uso de 50mg, e não vi melhoras nos meus sintomas de compulsão. Vou colocar isso para ela na próxima consulta. 

Minha vida tem se resumido em existir, e mesmo apenas existir tem horas que é difícil demais!

A luta continua.

Beijos. 


quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Sessão de Terapia #1 #2 - Por trás do véu

imagem de: http://www.internetmonk.com/archive/40465

Faz mais ou menos um mês que recebi o diagnóstico de Transtorno de Personalidade Borderline. Na primeira semana li tudo o que podia sobre o tema. Encontrei blogs muito bacanas, como o Borderline Girl e outros que não são mais atualizados a algum tempo e posso dizer que me ajudou muito a entender um pouco sobre o que eu tenho e claro, não me sentir sozinha.

Durante os meus vinte e sete anos eu sempre achei que fosse forte e que poderia lidar com tudo sozinha, mas infelizmente não posso. Por alguma razão meus pais reagiram muito mal ao diagnóstico. Minha mãe negou, disse que vamos a um neurologista, que eu não tenho nada. Claro que é difícil para ela aceitar quando mantive todo meu histórico em segredo. Na minha casa não se fazem muitas perguntas e pode-se dizer que eu sempre fui um pouco "arisca". Já meu pai, não expressa muito o que sente e no fundo acho que eu sou um pouco como ele.

Assim sendo, uma semana após o diagnóstico lá estava eu, novamente em crise, desesperada, pronta para me jogar na frente de um ônibus. Tudo desencadeado por meu ex-namorado, que me mandou uma mensagem que destroçou o resto de carne moída que tenho no lugar do coração. Naquele momento eu tive certeza que não conseguiria sozinha.

Minha psiquiatra me indicou uma psicóloga e foi pra ela que eu liguei.Infelizmente nunca consigo marcar uma consulta no mesmo dia, mas talvez tenha sido melhor assim. Semana passada foi minha primeira sessão: entre lágrimas e milhões de perguntas e amarras que me prendem tudo fluiu muito bem. Entre todas as coisas que contei para ela a grande questão nesse primeiro momento foi: "Quais os fatos da minha vida que me fazem acreditar que não consigo, que não sou capaz de fazer nada?"

Ainda não tenho uma resposta concreta, mas refletindo vejo que tenho uma tendencia a abandonar as coisas. Mudo de humor e opinião com uma facilidade incrivelmente fácil. Além disso, não consigo identificar em mim o que faz realmente parte da minha personalidade e o que foi moldado por conveniência para ser aceita pelos outros. Nisso se resume minha dificuldade: não me acho capaz porque não sei o que quero, nem sei quem sou.

E é incrível como esta resposta foi justamente a grande questão que rondou a minha segunda sessão, hoje: "Quem eu sou?" "O que realmente faz parte da minha personalidade?". Sabia que este espaço me ajudaria, pois foi exatamente agora que me deparei com isso. Como descrevi para minha psicóloga, eu vivo uma vida que não é vida, como se estivesse atrás de um véu, e tudo que vejo é turvo, impalpável, irreal... Incrível como a teia da psique vai se construindo. Isso me deixa feliz. 

A psicologa me deu alguns questionamento que terei de responder durante esta semana, são:

- O que gosta de fazer e está fazendo
- O que gosta de fazer e não está fazendo
- O que não gosta de fazer e está fazendo
- O que não gosta de fazer e não está fazendo

Partilharei aqui estas minhas descobertas. Busco descobrir a Mi e quem aqui vier irá acompanhar isso. Se vencer ou se for vencida, aqui irão saber. Só quero retirar este véu dos meus olhos.


Eu Borderline

foto de:http://modto.com/amanda-clyne-borderline/

Foi depois de uma crise terrível de ansiedade, desespero e desejo de morte que eu decidi ligar para a psiquiatra. Fui lá no catálogo do plano de saúde e procurei por algum nome. Encontrei lá uma médica que me pareceu ser a certa, sem pestanejar liguei. Queria a consulta para o mesmo dia, a mesma hora, o mesmo instante... estava desesperada! Infelizmente não consegui, e depois de uma semana, onde os ânimos já haviam se acalmado um pouco, lá estava eu no consultório esperando a minha hora de entrar.

Depois de algum tempo aguardando a minha vez, vejo entrar na sala de espera um casal de amigos. Ambos se tratam com a mesma psiquiatra, ele com síndrome do pânico, ela com depressão crônica. Fiquei divagando por alguns segundos na doloroso realidade daquilo: cada vez mais as pessoas estão doentes. Chamaram então o meu nome, e lá fui eu.

Simpatizei com a psiquiatra de cara, me senti a vontade e falei falei falei sem parar. Claro que chorei muito, um nó na garganta e um aperto no peito sufocava cada palavra. Auto-mutilação, negligencia comigo mesmo, drogas, álcool, dependência emocional, impulsividade, compulsão alimentar, baixa auto-estima (aliás, nula), entre tantas outras coisas mais, fizeram com que ela me desse o diagnóstico: Borderline.

A vida toda eu soube que havia algo de errado comigo. Impossível não achar isso quando você corta o próprio corpo ou vive uma vida baseada em auto destruir-se, sem saber quem se é. Foi assim que tantas e tantas vezes eu me olhei no espelho e me perguntei "Quem é você?". A grande questão atualmente é que este modo de viver tornou-se insuportável. São vinte e sete anos de nada!

Descobrir-me borderline foi ao mesmo tempo insuportável e libertador. Eu nunca antes havia procurado um médico, ou mesmo fui incentivada pela minha família a fazer isso. Fiz cinco meses de terapia comportamental no ano de 2010, onde fui diagnosticada com depressão e depois fiz quase dois anos de análise (psicanálise) entre 2011 e 2013, que me ajudaram a não me matar. Tudo isso sem um diagnóstico. Sou a favor do diagnóstico.Sem ele eu ainda estaria sem rumo.

Hoje, decidi que é hora de descobrir quem é essa mulher que me olha no espelho. Decidi que é hora de ama-la. Ainda que eu não saiba como fazer isso. Este espaço eu escolhi para um auxílio e espero poder partilhar de um encontro com a pessoa mais importante pra mim: EU.