sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Terapia, lágrimas e dias mais amenos

Depois da briga com meu pai e uma semana sem terapia por conta do feriado finalmente pude libertar meu coração de todo aquele sentimento que estava me matando. Falei tanto, chorei tanto e pude me conectar com tantos sentimentos que vivem em mim mas que eu prefiro me esquivar, que o dia se seguiu meio melancólico nesta quarta-feira. Entre várias coisas importantes colocadas nesta sessão destaco:

1 - a busca de formas que evitem o desencadeamento das reações borders e sentimentos fortes que me machucam,
2 - colocar-me de encontro com a mágoa que tenho de meus familiares, a culpa que julgo ser deles e o abandono que sinto,
3 - tomar consciência de que a causa do meu sentimento de angustia e ansiedade permanente e o desconforto que sinto morando com meus pais provém dos sentimentos dolorosos que as pequenas brigas e picuinhas dos meus pais (que são constantes) causam em mim, bem como a forte cobrança e deposição de expectativas que eles colocam sobre mim constantemente.



Mas como nem só de coisas dolorosas e negativas caminha a minha terapia, falamos também sobre as pesquisas que tenho feito com relação as coisas que podem se relacionar com o que parece pertencer a minha personalidade (vejam, eu tenho sim uma! ^_^ Falta muito a descobrir, mas de pouco em pouco já me sinto contente). Pesquisei bastante sobre Design, principalmente gráfico, de interiores e de joias. Simplesmente me vejo executando cada uma delas, mas como disse para a psicóloga, quero ter certeza de que não farei a escolha errada de novo, seja por impulso ou por me deixar influenciar por algo que um ou outro fala. Sendo assim, tenho algumas ideias em mente, mas depois as contarei com mais calma.

Os dias têm seguido amenos, sem muita intensidade depois da minha terapia, gosto que eles sejam assim. É muito melhor do que o tormento de querer morrer todos os dias, ou as crises de ansiedade e pânico que estavam me tirando do sério. 

Outra coisa muito bacana que esta me deixando mais tranquila é um novo projeto que tenho em mente e que partilho com uma amiga muito querida. Estou animada e feliz por ela ter topado minha ideia maluca e espero que isso possa ajuda-la também, porque ela merece muito ser feliz.

E pra finalizar, ontem saí com minha mãe para comprar umas coisinhas no centro da cidade. Estávamos olhando uns quadros e eu disse a ela que eu deveria ser aquilo, eu deveria ser uma artista plástica. E para minha alegria, minha mãe concordou e ainda disse que era a minha cara!



Encerro aqui. Beijos.


segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Abandono e pânico: minha primeira recordação

Não sei ao certo quando comecei a me sentir ou ser assim, mas minha memória sempre me leva aos meus 10 anos mais ou menos, talvez um pouco menos.



Meu primeiro episódio de pânico com relação ao abandono eu tinha menos de 10 anos. Não me lembro se eu já frequentava a escola, mas acredito que sim. No dia em questão eu e minha mãe estávamos sozinhas em casa. Meu pai havia levado meu irmão para pescar e minha irmã estava na casa de alguma de nossas primas. Enfim, eu e minha mãe estávamos sozinhas em casa.
Era por volta de 3 ou 4 horas da tarde e minha mãe disse que era hora de tomar banho. Entrei no banheiro e ela entrou comigo. Conversamos um pouco e ela saiu do banheiro, me deixando tomar banho sozinha. Até ai tudo bem, normal como em todos os dias. Eu aproveitei para brincar, e demorei um bocado no banho. Achei legal porque minha mãe não veio dizer que eu devia terminar logo o banho.
Terminei. Desliguei o chuveiro, me sequei e fui pro quarto me trocar. Coloquei uma roupa e chamei "Manhê". Não houve resposta. Chamei de novo "Mãe". Nada...
Foi ai que o desespero começou. As lágrimas começaram a escorrer e eu sai pela casa procurando ela e chamando-a. Em cada cômodo um novo soluço e uma dor que ia aumentando cada vez mais no meu peito. Meu coração batia rápido. Me vi totalmente sozinha, com medo e desesperada. Saí para fora de casa e tranquei o portão, entrei e tranquei todas as portas e janelas. Me joguei no chão do corredor dos quartos e comecei a gritar. Dava murros no chão, chorava e perguntava porque ela tinha me abandonado, me deixado ali sozinha. A dor era enorme, como se ela pudesse a qualquer momento se projetar para fora de mim e se materializar.
Foi então que eu ouvi ela me chamar do portão. Fui até a janela e lá estava ela, também desesperada me chamando, pedindo para eu abrir o portão. Fui lá, mas meu pai havia levado a chave do portão com ele. Ela pulou o portão e me perguntou o que estava acontecendo, porque ela estava na vizinha e ouviu meus gritos de lá. Eu continuei chorando e me sentindo muito envergonhada por ter me desesperado e enlouquecido daquela forma. Falei que ela me deixou sozinha e não me avisou que sairia. Não me lembro se ela me abraçou, mas ela disse que como eu poderia pensar que ela ia me deixar sozinha.

Este acontecimento sempre me deixou confusa. Sentir medo em me ver sozinha é aceitável, tendo em vista que eu era uma menina pequena, mas a intensidade daquele sentimento, que depois se repetiu tantas e tantas vezes na minha vida, é que me chama a atenção. Ate saber que eu sou borderline eu achava que todas as pessoas se sentiam como eu. Achava sem coração as pessoas que terminavam e começavam relacionamentos com a facilidade com que trocam de roupas, ou sentia uma certa inveja das pessoas que saiam da casa de seus pais e se tornavam bem sucedidos e independentes, porque eu queria conseguir ser como elas. Eu sempre me perguntei o que havia de errado comigo?

Tudo agora é uma construção e digo que é extremamente difícil. Difícil porque estou cercada por pessoas que não compreendem o meu transtorno, e ainda pior: não o aceitam. Tive uma briga com meu pai na ultima quinta-feira. Meu pai é o mestre de jogar com a culpa. Eu expor meu desejo de morar sozinha fez com que ele decretasse que eu não os amo (ele e a minha mãe) e que ele não poderia contar comigo para nada. Todos os meus medos se concretizam em saber que ele decepcionou-se comigo pois não sou bem sucedida como ele tanto investiu ou orgulhou-se de dizer quando passei em uma universidade federal ou fui fazer mestrado numa das mais conceituadas universidades do país, não sou responsável como ele sempre achou que eu seria, não sou uma boa filha porque não me importo com eles...

Por mais que eu queria transformar essa dor que esmaga meu peito a cerca de 20 anos, as vezes acho que nunca conseguirei.

Percebo cada dia mais que é um caminho que preciso percorrer sozinha. Cada vez mais é necessário que eu abandone a aceitação e aprovação do outro para constituir a minha vida. Ainda que a dor seja indescritível, sei que eu e tantos outros borders somos imensamente fortes, pois vivermos sob tensão, dor e pressão todos os dias, meses e anos de nossas vidas, e ainda sim conseguimos acordar todas as manhãs para mais um dia.


segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Nem sempre o que os olhos vêem é o que o coração sente

imagem de: http://jakko90.deviantart.com/art/Borderline-Personality-Disorder-395119703

Olá pessoal! Desculpem o sumiço. Fiquei uns dias sem internet em casa. Depois tirei uns dias de folga na chácara dos meus pais. Agora, retornei a cidade e a minha tão monótona existência.

Cheguei justamente na quinta-feira, as 10:45h da manhã, direto no consultório da minha psicóloga. Foi uma sessão maravilhosa, intensa e dolorosa. Sai de lá triste. Triste por ser como sou. Por me ferir, me machucar e achar que de alguma forma eu mereço toda essa dor. 
Meus dias oscilam entre ora suportáveis ora insuportáveis. Na verdade não me sinto viva. Me sinto como alguém que apenas existe. Cuja vida não tem graça, não tem razão nem sentido de ser. Na sexta recebi uma mensagem que me matou mais pouquinho. Passei praticamente todo o final de semana dormindo, tentando fazer sumir esse sentimento de vazio e dor.

Ontem deitei pra dormir cedo, mas demorei pra pegar no sono. Durante todo o tempo minha cabeça borbulhava de pensamentos. Pensei na minha vida, nas coisas de que fiz por impulso, nas coisas que fiz por amor, nas mentiras que criei para manter esse amor e nos amigos que perdi por ter amado tanto. Pensei em como as pessoas comentaram o meu sumiço (dois anos), em como elas me julgam e o quanto sou incapaz de explicar-lhes o porque de tudo ter sido como foi. Até mais do que incapacidade, pura preguiça de explicar, de expor a minha vida para pessoas que sei que vão apenas me julgar louca.

Ontem pensei que seria muito mais fácil morrer. Morrer a ter que aprender a lidar com a minha família, morrer a ter que dizer não aos meus pais, morrer a ter que reconquistar pessoas que perdi, morrer a ter que começar tudo do zero, morrer a ter que lutar para manter um foco profissional o pessoal. Tudo me pareceu tão difícil ontem, tão complexo, tão desgastante... 


quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Encontro com a psiquiatra



Ontem tive consulta com a minha psiquiatra. Por alguma razão esqueci de levar o resultado dos meus exames e fiquei com "cara de tábua" por conta disso. Mas ela disse que posso levar na próxima consulta.

A consulta foi muito boa. Ela disse que eu parecia mais serena e que isso é muito bom. Falei para ele sobre esse sentimento de estar estagnada, de não ter nada para chamar de meu e como isso me mata por dentro, porque quero muito poder encontrar um equilíbrio para minha vida, para poder fazer planos que eu consiga colocar em prática e ter melhores perspectivas futuras. Ela disse que estou no caminho certo e que apesar da minha visão pessimista de mim existe uma outra perspectiva: eu não tenho família, marido ou filhos que me prendam, tenho capacidade intelectual de fazer o que quiser, só preciso me encontrar comigo e com a minha personalidade e por isso é importantíssimo que eu faça a terapia. Disse também que eu já possuo um histórico de movimento pois eu não me corto mais nem faço mais usos de drogas, o que é muito positivo.

Quanto ao psicopata, ela ficou bastante contente em saber que depois da nossa ultima consulta eu cortei totalmente minha relação com ele. Me disse algo que faz todo o sentido: "Ele é perverso e sabe quais são os seus pontos fracos. Você continuar se mantendo em contato com ele é uma forma de continuar a se mutilar. Não o ato individual que você exercia, mas deixando que o outro te sangre." 

Achei muito bacana quando ela disse "Não sou psicóloga, sou médica e posso dizer 'exclua esse cara da sua vida'. Vou falar não como médica, deixando os diagnósticos de lado, mas como uma tiazinha que mora ao seu lado e que gosta de você: esse cara não serve pra você menina, ele é mal, você merece alguém muito melhor".

Outra coisa que ela disse é que eu posso sim chegar ao estágio de ter controle sobre a forma como eu reajo as situações e sentimentos. Reforçou a importância de fazer a terapia, que no caso de borders é a forma mais eficaz de tratamento.

Além disso, a dosagem do meu remédio aumentou de 50 para 100mg. Ainda tenho muitas crises de ansiedade e compulsão alimentar, apesar de as oscilações de humor estarem um pouco mais brandas, dependendo da situação.

No mais, só daqui um mês a verei novamente. 

Ontem bati um papo delicioso com a menina do canto, uma pessoa maravilhosa! Torço muito pela nossa recuperação. 

Um beijo!

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Eu borderline e o amor por um psicopata



Este final de semana terminei de ler o livro Corações Descontrolados (Ana Beatriz Barbosa Silva, editora FONTANAR) e posso dizer que me identifiquei com inúmeras descrições e situações, principalmente no capitulo que trata sobre as relações amorosas. Li em algum blog sobre TPB sobre a relação amorosa de borders com psicopatas, onde estes sentem uma atração fatal, numa mistura que pode ser muito perigosa e altamente destrutiva.

Como descrever minha experiência? Sabe, eu nunca fui muito "namoradeira", ao contrário sempre tive dificuldade de me relacionar mais intimamente, tanto que considero ter tido apenas um namorado que chamo carinhosamente de: o psicopata!

Depois do fim do meu relacionamento passei dias infernais, de uma dependência sentimental exorbitante, uma alto-estima destroçada, comparações com outras mulheres e sentimentos de rejeição que me levaram a loucura (e que ainda me levam, um ano após o fim da relação). Meu namorado não era um "cara comum". A falta de amor que ele demonstrava por mim era incompreensível para alguém que dizia me amar tanto. Meu ex é epilético, tem TOC, extremamente organizado e racional, e eu por não compreender a forma dele me tratar (sempre agressivo, me humilhava, me tratava como um alienígena) passei a pesquisar na internet se havia algum transtorno que pudesse estar associado a epilepsia. Encontrei uma associação com o transtorno psicótico, porém as características de um psicótico não batiam com as dele. Busquei então as características dele: racional, vaidoso, "ciumento" (na verdade ele me tratava como um objeto que pertencia a ele e não podia ter sentimentos e desejos próprios, ou mesmo problemas pessoais. Só ele tinha problemas, só ele importava), egoísta, intolerante a frustrações, violento e agressivo, jogava a culpa nos outros, era obcecado por sexo, odiava animais de todo tipo, tinha TOC, antissocial (ele não tinha amigos, apenas uma coleção de mulheres com quem me traia), extremamente inteligente, sedutor (era inacreditável como as mulheres ficavam apaixonadas por ele), entre tantas outras características. Percebi que ele se encaixava perfeitamente no perfil de um psicopata.

Eu por outro lado, vivia pedindo perdão a ele por coisas das quais não sei porque. Chorava e implorava para que ele me amasse e não me deixasse. Perdoava as traições, as trocas de mensagens com outras. Quando ele me chamava de vagabunda e drogada eu pedia perdão, implorava para que ele entendesse que eu não saia mais, que eu não tinha mais amigos, que eu não usava mais drogas, que eu não olhava para o lado e nem imaginava ver outro homem com desejo que não fosse ele. Enviei e-mail para amigos pedindo para que não me procurassem mais, evitei fazer qualquer tipo de amizade no mestrado, não saia de casa se não fosse com ele. Fazia tudo pra ele e por ele. Costumava dizer-lhe que ele era "toda a minha vida", colocava sempre ele como prioridade, deixava de ir as minhas aulas do mestrado, deixava de fazer meus trabalhos, sempre fazia o que ele gostava e o que ele queria fazer. Tudo para atender a ele, porque só ele importava. Meu peito doía insuportavelmente com a ideia de ele me deixar. Eu o via com uma idolatria, como se ele fosse a única razão da minha existência. Nas inúmeras vezes em que ele terminou comigo eu tive acessos horríveis, não conseguia dormir, me contorcia na cama, no chão, em qualquer lugar, me batia, arremessava objetos nas paredes, urrava de dor, pedia pra Deus me matar, tomava uma cartela inteira de relaxante muscular para fazer a dor parar, ligava pra ele e implorava para que ele voltasse. 

Ou seja, era eu (sou eu) uma border perfeita!

Trechos do livro Corações Descontrolados:
"a ligação dos borders com essas personalidades (narcisistas e psicopatas) é facilmente explicável. (...) Com relação aos psicopatas, essa  visão de uma personalidade bem 'construída' ou 'estruturada' é maior ainda, pois, além de se mostrarem egocêntricos e megalomaníacos, eles costumam apresentar uma eficácia na execução de seus objetivos práticos, especialmente os de caráter material, e grande habilidade na sedução afetiva. De forma quase hipnótica, as pessoas borders exergam esses parceiros ideais para dar consistência a sua existência, além de se sentirem 'importantes' como coadjuvantes na caminhada deles rumo à obtenção de seus objetivos. Os borders se prestam a tudo e suportam violências psicológicas e/ou físicas para auxiliar os parceiros a realizar os sonhos de ascensões profissionais e sociais, numa nítida ação desenfreada que visa evitar, a qualquer custo, o abandono."