segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Eu borderline e o amor por um psicopata



Este final de semana terminei de ler o livro Corações Descontrolados (Ana Beatriz Barbosa Silva, editora FONTANAR) e posso dizer que me identifiquei com inúmeras descrições e situações, principalmente no capitulo que trata sobre as relações amorosas. Li em algum blog sobre TPB sobre a relação amorosa de borders com psicopatas, onde estes sentem uma atração fatal, numa mistura que pode ser muito perigosa e altamente destrutiva.

Como descrever minha experiência? Sabe, eu nunca fui muito "namoradeira", ao contrário sempre tive dificuldade de me relacionar mais intimamente, tanto que considero ter tido apenas um namorado que chamo carinhosamente de: o psicopata!

Depois do fim do meu relacionamento passei dias infernais, de uma dependência sentimental exorbitante, uma alto-estima destroçada, comparações com outras mulheres e sentimentos de rejeição que me levaram a loucura (e que ainda me levam, um ano após o fim da relação). Meu namorado não era um "cara comum". A falta de amor que ele demonstrava por mim era incompreensível para alguém que dizia me amar tanto. Meu ex é epilético, tem TOC, extremamente organizado e racional, e eu por não compreender a forma dele me tratar (sempre agressivo, me humilhava, me tratava como um alienígena) passei a pesquisar na internet se havia algum transtorno que pudesse estar associado a epilepsia. Encontrei uma associação com o transtorno psicótico, porém as características de um psicótico não batiam com as dele. Busquei então as características dele: racional, vaidoso, "ciumento" (na verdade ele me tratava como um objeto que pertencia a ele e não podia ter sentimentos e desejos próprios, ou mesmo problemas pessoais. Só ele tinha problemas, só ele importava), egoísta, intolerante a frustrações, violento e agressivo, jogava a culpa nos outros, era obcecado por sexo, odiava animais de todo tipo, tinha TOC, antissocial (ele não tinha amigos, apenas uma coleção de mulheres com quem me traia), extremamente inteligente, sedutor (era inacreditável como as mulheres ficavam apaixonadas por ele), entre tantas outras características. Percebi que ele se encaixava perfeitamente no perfil de um psicopata.

Eu por outro lado, vivia pedindo perdão a ele por coisas das quais não sei porque. Chorava e implorava para que ele me amasse e não me deixasse. Perdoava as traições, as trocas de mensagens com outras. Quando ele me chamava de vagabunda e drogada eu pedia perdão, implorava para que ele entendesse que eu não saia mais, que eu não tinha mais amigos, que eu não usava mais drogas, que eu não olhava para o lado e nem imaginava ver outro homem com desejo que não fosse ele. Enviei e-mail para amigos pedindo para que não me procurassem mais, evitei fazer qualquer tipo de amizade no mestrado, não saia de casa se não fosse com ele. Fazia tudo pra ele e por ele. Costumava dizer-lhe que ele era "toda a minha vida", colocava sempre ele como prioridade, deixava de ir as minhas aulas do mestrado, deixava de fazer meus trabalhos, sempre fazia o que ele gostava e o que ele queria fazer. Tudo para atender a ele, porque só ele importava. Meu peito doía insuportavelmente com a ideia de ele me deixar. Eu o via com uma idolatria, como se ele fosse a única razão da minha existência. Nas inúmeras vezes em que ele terminou comigo eu tive acessos horríveis, não conseguia dormir, me contorcia na cama, no chão, em qualquer lugar, me batia, arremessava objetos nas paredes, urrava de dor, pedia pra Deus me matar, tomava uma cartela inteira de relaxante muscular para fazer a dor parar, ligava pra ele e implorava para que ele voltasse. 

Ou seja, era eu (sou eu) uma border perfeita!

Trechos do livro Corações Descontrolados:
"a ligação dos borders com essas personalidades (narcisistas e psicopatas) é facilmente explicável. (...) Com relação aos psicopatas, essa  visão de uma personalidade bem 'construída' ou 'estruturada' é maior ainda, pois, além de se mostrarem egocêntricos e megalomaníacos, eles costumam apresentar uma eficácia na execução de seus objetivos práticos, especialmente os de caráter material, e grande habilidade na sedução afetiva. De forma quase hipnótica, as pessoas borders exergam esses parceiros ideais para dar consistência a sua existência, além de se sentirem 'importantes' como coadjuvantes na caminhada deles rumo à obtenção de seus objetivos. Os borders se prestam a tudo e suportam violências psicológicas e/ou físicas para auxiliar os parceiros a realizar os sonhos de ascensões profissionais e sociais, numa nítida ação desenfreada que visa evitar, a qualquer custo, o abandono." 


4 comentários:

  1. Isso me lembrou do meu primeiro "namorado", com certeza ele tinha traços de psicopatia, ele me traía com muita gente, adorava me humilhar, me agredir com palavras e ás vezes até com tapas, obcecado por sexo, e muito manipulador, sempre conseguia fazer com que erros dele acabassem sendo meus e lá estava eu pedindo perdão e chorando de joelhos. Eu era dependente dele porque achava que não encontraria mais ninguém que gostasse de mim, ele era tudo o que eu tinha - eu pensava, e quando o relacionamento acabou porque ele percebeu que eu também tinha transtornos mentais (do tipo com alucinações), ele quis me bater e me humilhar na frente das minhas amigas como se ele fosse uma pessoa que não pudesse ser contrariada ou enganada em hipótese nenhuma... oito anos depois, aqui estou, viva, e uma "border" em recuperação (sim, isso existe), sou casada, tenho um ótimo relacionamento com meu marido e não me sinto mais dependente, nem tive mais crises psicóticas ou distorci situações... meu parceiro foi e tem sido um grande amigo e me ajudou muito na minha recuperação, tive sorte. Mas olha, é possível melhorar e muito. Acabei de ler esse livro também, me identifiquei muuuuuuito! Beijos

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    1. Oi Michele! Nas minhas muitas reflexões eu cheguei a conclusão de que parceiros com esses traças psicopatas pioram e muito nosso quadro border. De alguma forma ficamos mais vulneráveis. Mas posso dizer que hoje (apesar de ainda sofrer) estou mais esperançosa com relação ao fim do meu relacionamento e quem sabe o encontro com uma outra pessoa. Ele não era o meu mundo, só eu posso ser o meu mundo. Como disse minha psiquiatra "busque encontrar-se com você, porque é possível!". Obrigada por partilhar sua experiência comigo. Adoro quando você comenta aqui! Beijo grande!

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Eu que sou totalmente crua nesse assunto, estou aqui em prantos por descobrir nomrs do que vivi a vida toda.

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